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56. ABAIXO DA INTERFACE
Eles ainda não eram inteligentes, mas possuíam a curiosidade que constituía o primeiro passo ao longo da estrada interminável. Como muitos dos crustáceos que um dia tinham florescido nos oceanos da Terra, podiam sobreviver fora d’água por períodos indefinidos. Até os últimos séculos, contudo, houvera pouco incentivo em fazê-lo, com as grandes florestas de algas provendo todas as suas necessidades. As folhas longas e delgadas forneciam alimentos, e os talos resistentes eram a matéria-prima para seus artefatos primitivos. Eles possuíam apenas dois inimigos naturais. Um era um imenso peixe do mar profundo, felizmente muito raro, pouco mais do que um par de mandíbulas vorazes ligadas a um estômago nunca satisfeito. O outro era uma venenosa geléia pulsante, forma móvel dos gigantescos pólipos que algumas vezes cobriam o leito marinho com a morte, deixando um deserto descorado em sua esteira. À parte excursões esporádicas através da interface ar-água, os scorps poderiam muito bem passar sua existência inteira no mar, perfeitamente adaptados ao seu ambiente. Diferentes das formigas e cupins, eles ainda não haviam penetrado num dos becos sem saída da evolução. Ainda podiam responder à mudança. E a mudança, embora ocorrendo ainda numa pequena escala, havia de fato chegado àquele mundo oceânico. Coisas maravilhosas vinham caindo do céu. E de onde elas vinham devia existir mais. Quando estivessem prontos, os scorps sairiam em busca delas. Não havia nenhuma pressa particular no universo atemporal do mar thalassiano. Muitos anos ainda se passariam antes que eles fizessem seu primeiro assalto sobre aquele elemento alienígena, do qual seus batedores haviam contado tão estranhos relatos. Eles jamais poderiam adivinhar que outros batedores estivessem falando sobre eles, e quando avançaram, não poderiam ter escolhido uma ocasião pior. Tiveram a má sorte de emergir em terra firme exatamente durante o segundo mandato, inconstitucional, mas extremamente competente, do presidente Owen Fletcher.
IX — SAGAN 2
57. AS VOZES DO TEMPO
A nave estelar Magalhães ainda se encontrava a apenas algumas horas-luz de distância quando Kumar Lorenson nasceu, mas seu pai ainda dormia, e só iria receber a notícia trezentos anos depois. Ele chorou ao pensar que seu sono sem sonhos tinha abrangido toda a vida de seu primeiro filho. Quando conseguia enfrentar o suplício, ele observava os registros que aguardavam por ele nos bancos de memória. Poderia então ver seu filho crescer até se tornar adulto, e ouvir sua voz enviando saudações através dos séculos. Saudações que jamais poderia responder. E veria também (não havia meio de evitar) o lento envelhecer da mulher há muito morta, que ele tivera em seus braços há apenas uma semana atrás. Seu último adeus lhe chegava de lábios há muito transformados em pó. A tristeza, embora profunda, logo passaria. A luz de um novo sol enchia o céu adiante, logo haveria outro nascimento, num mundo que já arrastava a nave estelar Magalhães para sua órbita final. Um dia toda a dor cessaria, mas nunca a lembrança.
FIM
Nota Bibliográfica
A primeira versão deste romance, um conto de 12.500 palavras, foi escrita entre fevereiro e abril de 1957 e posteriormente publicada na Revista IF (EUA) de junho de 1958 e na Science Fantasy (Reino Unido) em junho de 1959. Ela pode ser mais facilmente localizada em minhas antologias da Harcourt Brace, Javanovich, O outro lado do céu (1958) e Do oceano e das estrelas (1962). Em 1979 eu transformei o tema numa curta sinopse de filme, publicada na revista OMNI (v. 3, n.° 12, 1980). Esta sinopse foi publicada em minha antologia ilustrada O sentinela (Byron Preiss/Berkley, 1984), juntamente com uma introdução explicando sua origem e o modo inesperado pelo qual ela levou à criação e filmagem de 2070: Odisséia no espaço II. Este romance, a terceira e ultima versão da história, foi iniciado em maio de 1983 e terminado em junho de 1985.
1.° de julho de 1985 Colombo, Sri Lahka.
Agradecimentos
A primeira sugestão de que as energias do vácuo poderiam ser usadas para propulsão parece ter sido feita por Shinichi Seike em 1969. („Veículo espacial elétrico quântico”, 8.° Simpósio sobre Ciência e Tecnologia Espacial em Tóquio.) Dez anos depois, H.D. Froning, da McDo
Quando dois dos maiores físicos do mundo divergem numa pequena questão de 79 zeros, pode-se desculpar um certo ceticismo da parte do resto de nós. Entretanto, é interessante imaginar que o vácuo dentro de uma lâmpada comum contém energia suficiente para destruir a Galáxia, e talvez com um pequeno esforço extra, o Cosmos. No que se espera seja um artigo histórico („Extraindo energia elétrica do vácuo por coesão de condutores laminados”, Revista de Física, v. 30 B, p. 1700–1702, agosto 1984), o Dr. Robert L. Forward, dos Laboratórios de Pesquisa Hughes, demonstrou que pelo menos uma diminuta fração desta energia pode ser aproveitada. Se ela puder ser controlada com finalidades propulsoras por alguém além dos escritores de ficção científica, os problemas referentes meramente à engenharia do vôo interestelar ou mesmo intergaláctico seriam resolvidos. Mas talvez não. Eu sou extremamente grato ao Dr. Alan Bond por sua detalhada análise matemática do escudo necessário para a missão descrita neste romance, e por sugerir que um cone rombudo seria a forma mais vantajosa.
Pode-se revelar que o fator de limitação de altas velocidades em vôos interestelares não seja a energia e sim a ablação da massa do escudo por grãos de areia e sua evaporação por prótons. A história e a teoria do „elevador espacial” podem ser encontradas em meu discurso ao Congresso da Federação Internacional de Astronáutica em Munique, 1979: „O Elevador Espacial: Uma idéia imaginativa ou a chave para o Universo?” (Reimpresso em Avanço da tecnologia espacial nas aplicações voltadas para a Terra, v. 1, n.° 1, 1981, pp. 39–48 e Ascensão à órbita, John Wiley, 1984). Também desenvolvi a idéia no romance As fontes do paraíso (Del Rey, Gollancz, 1978).
Os primeiros experimentos neste sentido, envolvendo cargas sendo baixadas até a atmosfera desde o ônibus espacial, penduradas em linhas de cem quilômetros de comprimento, deverão ter começado quando este romance estiver sendo publicado. Minhas desculpas a Jim Ballard e J. T. Frazer por roubar o título de seus livros bem diferentes para o meu capítulo final. Minha gratidão especial ao Diyawadane Nilame e seus assistentes do Templo do Dente, em Kandy, por gentilmente me convidarem à Câmara da Relíquia, numa era de agitações. Sobre o Autor Arthur C. Clarke nasceu em Minehead, Somerset, Inglaterra, em 1917, e se graduou no Kings College de Londres, onde obteve honras de primeira classe em Física e Matemática. Foi presidente da Sociedade Interplanetária Britânica, membro da Academia de Astronáutica da Sociedade Astronômica Real e muitas outras organizações científicas. Como oficial da RAF durante a Segunda Guerra Mundial, foi encarregado dos primeiros radares de orientação de pousos durante sua fase experimental. Seu único romance de não-ficção científica, Glide Path, baseia-se nesta experiência. Autor de cinqüenta livros, alguns com mais de vinte milhões de cópias impressas, em mais de trinta idiomas, recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Kalinga de 1961, o prêmio científico da AAAS Westinghouse, o Prêmio Bradford Washburn e os prêmios Hugo, Nebula e John W9 Campbell, tendo ganho estes três últimos por seu romance Encontro com Rama. Em 1968 dividiu com Stanley Kubrick uma indicação para o Oscar pelo roteiro de 2001: Uma odisséia no espaço, e sua série de TV, O mundo misterioso de Arthur C. Clarke, tem sido exibida em muitos países. Uniu-se a Walter Cronkite durante a cobertura dos vôos Apolló pela rede de televisão CBS. Sua invenção do satélite de comunicações em 1945 trouxe-lhe inúmeras honras, tais como o Marconi International Fellowship em 1982, a medalha de ouro do Instituto Franklin, o professorado Vikran Sarabhai no Laboratório de Pesquisas Físicas de Ahmedabad, e o título de Membro do King’s College de Londres. O presidente de Sri Lanka o nomeou recentemente reitor da Universidade de Moratuwa, perto de Colombo.